quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A greve

         
Em maio de 2012, a universidade federal do Estado do Amazonas entrou em greve. Professores e funcionários administrativos buscando seus direitos contra o governo e as precárias condições oferecidas para a instituição paralisaram suas atividades dando inicio ao processo que só se encerraria em final de setembro. Por um lado algumas exigências ao menos foram atendidas, entretanto, o ano letivo acabou sendo atrasado e o período de ferias acabara por dar espaço aos meses que passamos sem estudar devido ao movimento.
Acredito que todos devem buscar seus direitos, e que é valida a iniciativa daqueles que se achem prejudicados pelo sistema e pelo governo. Me incomoda o fato e o descaso de nossos governantes que permitiram uma universidade ficar paralisada por tão longo período, por causa de um descaso em relação a educação.  

domingo, 4 de novembro de 2012

Eric J. Hobsbawm, "Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo"

Escrita pelo renomado historiador Eric J. Hobsbawm, o principal aspecto abordado por esta obra é a história econômica e social da Grã-Bretanha ao longo de 200 anos, da Revolução Industrial até o final da década de 1960.
Nascido em Alexandria, em 1917, E. J. Hobsbawm estudou em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Foi membro do conselho do King’sEscrita pelo renomado historiador Eric J. Hobsbawm, o principal aspecto abordado por esta obra é a história econômica e social da Grã-Bretanha ao longo de 200 anos, da Revolução Industrial até o final da década de 1960.
Nascido em Alexandria, em 1917, E. J. Hobsbawm estudou em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Foi membro do conselho do King’s College, em Cambridge, de 1949 a 1955, e em 1959 assumiu a cátedra de história do Birkebeck College, na Universidade de Londres. É autor de diversas obras.
Os primeiros capítulos da referida obra de Hobsbawm são dedicados a analisar o período inicial da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, notadamente no que se refere à investigação sobre as bases e os desdobramentos ocorridos nas áreas rurais da Inglaterra durante a segunda metade do século XVIII. Mais importante que qualificar o entendimento sobre o termo Revolução Industrial – cuja fase de rápida evolução técnica também já teria sido notada em outras economias que não a inglesa antes mesmo desse período – o autor busca esclarecer, então, através da análise sobre seus antecedentes históricos, o porquê da Inglaterra ter sido a primeira nação a "sediá-la" e justamente em fins do século XVIII.
Rica, poderosa e com notável marinha mercante, a Inglaterra contava no século XVIII com uma trajetória de duzentos anos de contínuo desenvolvimento econômico. Internamente, tal condição precedia da consolidação de uma sólida oligarquia liberal de base burguesa, de um lado e, de uma massa de camponeses proletários, de outro, que servia de mão de obra às atividades manufatureiras de pequenos proprietários rurais. Externamente, sua soberania foi fruto, fundamentalmente, da hegemonia comercial exercida sobre a "economia européia", pela conquista das suas colônias fornecedoras de matérias-primas na América, além da dominação de pontos comerciais no Oriente, que garantia "expandir novos mercados, senão criá-los" (p. 39).
Diferente do que posteriormente ocorrera na maior parte dos outros países no mundo, o processo de industrialização inglesa caracterizou-se pela produção em pequena escala de artefatos têxteis, além de outros bens de consumo não duráveis, como alimentos e bebidas, produzidos por glebas familiares de pequenas, porém hábeis manufaturas, que expandiam seus investimentos por adições sucessivas baseada no aumento em vendas. Ao passo que as vendas e o lucro aumentavam, novos dispositivos mecânicos eram incorporados e, embora simples aos padrões da época, eles permitiam que cada vez menos tecelões fossem necessários para operar os teares mecânicos, muito mais produtivos que suas antigas rocas de fiar. Menos relativa às invenções tecnológicas em si, a Revolução Industrial se tornou tão notável ao constituir-se no primeiro movimento capaz de transformar por completo as relações de produção dos homens na sociedade. College, em Cambridge, de 1949 a 1955, e em 1959 assumiu a cátedra de história do Birkebeck College, na Universidade de Londres. É autor de diversas obras.
Os primeiros capítulos da referida obra de Hobsbawm são dedicados a analisar o período inicial da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, notadamente no que se refere à investigação sobre as bases e os desdobramentos ocorridos nas áreas rurais da Inglaterra durante a segunda metade do século XVIII. Mais importante que qualificar o entendimento sobre o termo Revolução Industrial – cuja fase de rápida evolução técnica também já teria sido notada em outras economias que não a inglesa antes mesmo desse período – o autor busca esclarecer, então, através da análise sobre seus antecedentes históricos, o porquê da Inglaterra ter sido a primeira nação a "sediá-la" e justamente em fins do século XVIII.
Rica, poderosa e com notável marinha mercante, a Inglaterra contava no século XVIII com uma trajetória de duzentos anos de contínuo desenvolvimento econômico. Internamente, tal condição precedia da consolidação de uma sólida oligarquia liberal de base burguesa, de um lado e, de uma massa de camponeses proletários, de outro, que servia de mão de obra às atividades manufatureiras de pequenos proprietários rurais. Externamente, sua soberania foi fruto, fundamentalmente, da hegemonia comercial exercida sobre a "economia européia", pela conquista das suas colônias fornecedoras de matérias-primas na América, além da dominação de pontos comerciais no Oriente, que garantia "expandir novos mercados, senão criá-los" (p. 39).
Diferente do que posteriormente ocorrera na maior parte dos outros países no mundo, o processo de industrialização inglesa caracterizou-se pela produção em pequena escala de artefatos têxteis, além de outros bens de consumo não duráveis, como alimentos e bebidas, produzidos por glebas familiares de pequenas, porém hábeis manufaturas, que expandiam seus investimentos por adições sucessivas baseada no aumento em vendas. Ao passo que as vendas e o lucro aumentavam, novos dispositivos mecânicos eram incorporados e, embora simples aos padrões da época, eles permitiam que cada vez menos tecelões fossem necessários para operar os teares mecânicos, muito mais produtivos que suas antigas rocas de fiar. Menos relativa às invenções tecnológicas em si, a Revolução Industrial se tornou tão notável ao constituir-se no primeiro movimento capaz de transformar por completo as relações de produção dos homens na sociedade.

David Landes, "Prometeu Desacorrentado"

David Landes nasceu em 1924 em Nova Iorque. É um dos historiadores econômicos mais credenciados da atualidade.
Doutorou-se em 1953 pela Universidade de Harvard, onde se tornou professor em 1964. Ensinou em Harvard até se reformar, sendo hoje professor "emeritus" de economia da Universidade de Harvard .
Em uma narrativa leve, de forma até romanceada, o catedrático de Harvard, David Landes, narra a história da Revolução Industrial. “Prometeu Desacorrentado” é uma verdadeira apologia à Revolução que, realmente, foi um marco na humanidade.
            O simbolismo de Prometeu representa a vontade humana por conhecimento. Sua captura do fogo é a audácia humana pela busca incessante e o compartilhamento do conhecimento. Trata-se de uma passagem da mitologia grega. A Prometeu e seu irmão Epimeteu deu-se a tarefa de criar os homens e todos os animais. Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu encarregou-se de supervisioná-la, depois de pronta. Assim, Epimeteu atribuiu a cada animal seus dons variados, de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapaça protegendo um terceiro etc. Porém, quando chegou a vez do homem, que deveria ser superior a todos os animais, Epimeteu gastara todos os recursos, assim, recorre a seu irmão Prometeu que com a ajuda de Minerva roubou o fogo que assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto acorrentá-lo ao cume do monte Cáucaso, onde todos os dias uma águia (ou abutre) ia dilacerar o seu fígado que, por ser Prometeu imortal, regenerava-se. Esse castigo devia durar 30 mil anos. Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules que, havendo concluído os seus doze trabalhos dedicou-se a aventuras. No lugar de Prometeu, o centauro Quíron deixou-se acorrentar no Cáucaso, pois a substituição de Prometeu era uma exigência para assegurar a sua libertação.
           A obra de Landes destaca a Revolução Industrial e os motivos que fizeram com que ela se realizasse na Inglaterra e não em outros países, até mais desenvolvidos. Trata, ainda, do estudo das novas tecnologias que nasceram a partir das transformações provocadas pela revolução, mudanças tão duradouras que estão até hoje presentes no mundo inteiro. Landes busca, enfim, respostas.
           O autor usa então, no mito de Prometeu, as explicações sobre a industrialização e a modernização. Ambas estão na capacidade de criação das pessoas. Tal modernização depende da iniciativa individual, da eliminação dos preconceitos aristocráticos, da valorização da eficiência e da racionalidade. Depende da ética do trabalho e da eficiência burocrática weberiana, que dá base ao comportamento empresarial do capitalismo.
          Justamente este comportamento, fez com que a Inglaterra obtivesse a primazia, diferentemente de outros países até mais desenvolvidos à época como França ou Holanda, ou ricos como Portugal ou Espanha, impérios coloniais que se fizeram com o ouro furtado do território americano.
             É importante destacar que, dentro do contexto mundial, a Inglaterra já detinha outro pensamento, um outro, digamos, modus operandi. Se analisarmos a obra de Maurice Dobb em “A Evolução do Capitalismo” e as discussões que se seguiram com Paul Sweezy, podemos observar que já à época do feudalismo, sua implosão e o crescimento das cidades, o continente inglês já dava demonstrações, até pelo desenvolvimento de suas cidades, de que se anteciparia na evolução tecnológica.
          O pioneirismo britânico é calcado em quatro elementos essenciais que concorreram para a industrialização: capital, recursos naturais, mercado, transformação agrária. Depois de vencer a monarquia, a burguesia conquistou os merca¬dos mundiais e transformou a estrutura agrária. Os ingleses avançaram sobre esses mercados por meios pacíficos ou militares. A hegemonia naval lhes dava o controle dos mares. Era o mercado que comandava o ritmo da produção, ao contrário do que aconteceria depois, nos países já industrializados, quando a produção criaria seu próprio mercado.
          Até a segunda metade do século XVIII, a grande indústria inglesa era a tecelagem de lã. Mas a primeira a mecanizar-se foi a do algodão, feito com matéria-prima colonial. Tecido leve, se ajustava aos mercados tropicais; 90% da produção eram exportadas e isto representava metade de toda a exportação inglesa. As colônias contribuíam com matéria-prima, capitais e consumo.
          Os capitais também vinham do tráfico de escravos e do comércio com metrópoles colonialistas, como Portugal. Provavelmente, metade do ouro brasileiro acabou no Banco da Inglaterra e financiou estradas, portos, canais. A disponibilidade de capital, associada a um sistema bancário eficiente, com mais de quatrocentos bancos em 1790, explica a baixa taxa de juros; isto é, havia dinheiro barato para os empresários.
          Depois de capital, recursos naturais e merca¬do, o quarto elemento essencial à industrialização, a transformação na estrutura agrária após a Revolução Inglesa. A divisão das terras coletivas beneficiou os grandes proprietários. As terras dos camponeses, os yeomen, foram reunidas num só lugar e eram tão poucas que não lhes garantiam a sobrevivência: eles se transforma¬ram em proletários rurais; deixaram de ser ao mesmo tempo agricultores e artesãos.
           Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual, no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam as etapas do processo produtivo.
           Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na condição de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros.
           Esse momento de passagem marca o ponto culminante de uma evolução tecnológica, econômica e social que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média, com ênfase nos países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência da Igreja Católica: Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Suécia. Nos países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu, em geral, mais tarde, e num esforço declarado de copiar aquilo que se fazia nos países mais avançados tecnologicamente: os países protestantes.
         De acordo com a teoria de Karl Marx, a Revolução Industrial, iniciada na Grã-Bretanha, integrou o conjunto das chamadas Revoluções Burguesas do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Para Marx, o capitalismo seria um produto da Revolução Industrial e não sua causa.
         Com a evolução do processo, no plano das Relações Internacionais, o século XIX foi marcado pela hegemonia mundial britânica, um período de acelerado progresso econômico-tecnológico, de expansão colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores. Ao final do período, a busca por novas áreas para colonizar e descarregar os produtos maciçamente produzidos pela Revolução Industrial produziu uma acirrada disputa entre as potências industrializadas, causando diversos conflitos e um crescente espírito armamentista que culminou, mais tarde, na eclosão, da Primeira Guerra Mundial.
           Por diversos fatores, a Grã-Bretanha foi pioneira no processo da Revolução Industrial. Aplicou uma política econômica liberal desde meados do século XVIII. Com a liberalização da indústria e do comércio ocorreu um enorme progresso tecnológico e um grande aumento da produtividade em um curto espaço de tempo.
          O processo de enriquecimento britânico adquiriu maior impulso após a Revolução Inglesa, que forneceu ao seu capitalismo a estabilidade que faltava para expandir os investimentos e ampliar os lucros. A Grã-Bretanha possuía grandes reservas de ferro e de carvão mineral em seu subsolo, principais matérias-primas utilizadas neste período. Dispunham de mão-de-obra em abundância desde a Lei dos Cercamentos de Terras, que provocou o êxodo rural. Os trabalhadores dirigiram-se para os centros urbanos em busca de trabalho nas manufaturas.
           Landes utiliza a evidência histórica acumulada, sobretudo no exame detalhado dos processos industriais que se desenvolveram na Inglaterra naqueles anos, na fabricação de tecidos de algodão e lã, na química, na siderurgia e no desenvolvimento da máquina a vapor. O estudo da evolução da tecnologia permite que, de passo, uma série de idéias convencionais sobre a revolução industrial inglesa, e sobre a economia moderna, sejam postas de lado.
           Para o autor, três grandes temas dominam o livro. A relação entre a ciência, a tecnologia e o processo produtivo, Landes acredita no desenvolvimento contínuo da ciência, mas sabe que suas relações com o sistema produtivo não são simples. Ao contrário do que muitas vezes propagam os cientistas, a revolução tecnológica se deu no interior da própria indústria, e, pelo menos no início, teve pouco a ver com o que ocorria no âmbito da ciência básica e acadêmica. Não é verdade que a ciência, por si mesma, gere automaticamente benefícios econômicos e sociais. Para isto, ela depende fundamentalmente dos processos aplicados e de engenharia, que respondem a lógicas institucionais e econômicas próprias, e desenvolvem culturas técnicas independentes.
         O segundo tema é o papel das condições estruturais nos processos econômicos. Ao contrário do que pensavam os marxistas, a industrialização não se baseou na expulsão dos trabalhadores do campo, nem esteve associada ao desaparecimento das formas de organização econômica familiar, que continuaram a existir e a ocupar a maior parte da população ativa. Estas não foram as causas, e sim as conseqüências do processo de desenvolvimento da iniciativa capitalista e da racionalização progressiva da atividade econômica, que acabou por transformar de maneira tão profunda não só a sociedade inglesa, mas todo o mundo. Ele inverte as explicações históricas que fazem do homem um ser sem iniciativa e liberdade, determinado e comandado pelas suas condições e origens. Existiam condições na Inglaterra, para o aparecimento do Prometeu, que a tornavam mais propícia do que a França ou outros países para o primeiro surto da revolução industrial, assim como existiram condições que favoreceram a entrada tardia da Alemanha e, mais tarde, dos Estados Unidos no centro da economia moderna. A perspectiva de Landes é sempre de que as pessoas são agentes e criadores de seu próprio destino, a partir da realidade de suas condições.
          O terceiro eixo do livro trata do relacionamento entre o Estado, o planejamento da economia e a liberdade e criatividade dos empresários. Landes defende o liberalismo econômico, que aposta na iniciativa empresarial e descrê profundamente das ações do Estado, e suas tentativas de planejar e condicionar a atividade econômica. Esta posição se sustenta de forma bastante convincente até meados do século XIX, mas começa a se complicar com a entrada da Alemanha no mundo das potências industriais, e a importância crescente do nacionalismo e da ideologia ao longo do século XX. A tese central é que, quando mais atrasada for a economia de um país, mais importantes seriam os fatores políticos e ideológicos no desenvolvimento da economia, suprindo o capital, mas sobretudo a iniciativa e a ambição de modernização que o setor privado não tem. Na medida o setor privado se fortalece, o nacionalismo e a ideologia se tornam contraproducentes, por não terem como substituir a riqueza e a diversidade das iniciativas individuais.
          A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.
         A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII.